Agnelo Queiroz, Corrupção, Políticos do PSDB

deputado Francischini (PSDB) já foi apontado pela CPI do Grampo do ES como o operador do equipamento para grampear telefones

Fernando Francischini (PSDB) foi investigado no Espírito Santo. Deputados queriam saber se o deputado era o operador do GuardiãoMesmo sendo do Paraná, o deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) tem aparecido no cenário político brasiliense como o principal acusador do governador Agnelo Queiroz (PT). Ele surgiu, em reportagem da revista Veja, como um dos que tiveram os dados pessoais acessados por integrantes do Executivo distrital, por meio do sistema Infoseg, do Ministério da Justiça. Depois, a Polícia Federal apontou que ele foi vítima de monitoramento pelo sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, a pedido do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

“A quebra ilegal do sigilo de um parlamentar que fiscaliza o uso do dinheiro público é uma afronta à democracia brasileira, ainda mais quando aparelhada pelo próprio Governo”, disse Francischini, após saber que ele foi uma das vítimas das quebras ilegais de sigilo investigadas na operação Monte Carlo, deflagrada pela Policia Federal no mês passado.

Porém, o deputado que hoje reclama de suspostas investigações sigilosas e ilegais, já foi acusado de ser o operador do Guardião no Espírito Santo, equipamento de escuta telefônica cujo uso de maneira ilegal provocou um escândalo de repercussão nacional. Segundo reportagem publicada no jornal Espírito Santo, em outubro de 2009, a Rede Gazeta foi uma das grampeadas, gerando a CPI do Grampo, que tinha Francischini como um dos suspeitos a serem investigados. A investigação, porém, foi abortada.

As escutas ilegais não são os únicos problemas que enfretou Francischini. Segundo o mesmo jornal capixaba, o deputado federal é acusado de envolvimento em crime de latrocínio que vitimou o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, responsável pelo inquérito policial militar aberto para investigar Francischini e o soldado Jailson Ribeiro Soares, também encarregado das investigações. O texto sustenta que Soares “caminhava à paisana e desarmado, nas proximidades do edifício Palas Center, no Centro de Vitória, quando foi submetido a uma abordagem policial, patrocinada pelo então subsecretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, e pelos militares estaduais que lhe acompanhavam”, diz o jornal. As descrições dos crimes teriam sido retiradas das conclusões do relatório final do inquérito feitas pelo corregedor coronel Jonas de Brito Silva.

Blog do Callado

Agnelo Queiroz, Brasília, Políticos do PSDB, VEJA

deputado Francischini (PSDB) tramava a queda do governador Agnelo Queiroz (PT), junto com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, e desejava virar governador

Da VEJA, Cachoeira de DadosBrasil 247 – 

Em agosto de 2011, o deputado federal Francisco Francischini (PSDB) foi entrevistado pela revista VEJA (#VEJAbandida) e disse não possuir o “telhado de vidro”, a VEJA ainda o chamou de “policial implacável”.

Sabe-se que não pode-se esperar coisas boas vindas do PSDB, mas o que se descobre agora, é que o deputado federal Francischini (PSDB) possuía relações íntimas com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ele tramava a queda do governador petista Agnelo Queiroz e, segundo gravações feitas pela Polícia Federal, trocaria seu domicílio eleitoral do Paraná para o Distrito Federal com o intuito de virar governador.

Em 16 de abril deste ano, VEJA publicou a reportagem “Espiões vermelhos”, sobre o suposto núcleo de arapongagem no DF, que estaria investigando políticos, empresários e jornalistas, por isso, em Brasília, foi criada a CPI da Arapongagem, para investigar o caso. Uma das supostas vítimas, seria o deputado Fernando Francischini (PSDB/PR), este disse, inclusive, que pediria a prisão do governador Agnelo Queiroz.

No anexo 7 do inquérito (leia mais aqui), há várias menções ao nome de Francischini – e todas elas, anteriores à publicação da reportagem de Veja sobre os “espiões vermelhos”.

No dia 31 de janeiro, Dadá faz referência a uma mensagem enviada por Francischini. Dadá se refere ainda a um contrato na Polícia Civil do Distrito Federal e a um encontro com o parlamentar tucano.

No dia 4 de fevereiro, Dadá telefona para o bicheiro Carlos Cachoeira e revela que vem sendo ajudado por Francischini. Diz até que o parlamentar tucano estaria trazendo seu título de eleitor do Paraná para o Distrito Federal, onde tentaria ser candidato a governador.

– Quem me falou foi um cara que tá ajudando a gente… é, montando um escritório aí, com aquele delegado Francischini, bancando pra fuder o governador… e o Francischini tá trazendo – é deputado federal que é delegado – tá trazendo o título dele para ser candidato a governador.

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Leia, abaixo, a reportagem “Espiões Vermelhos”, publicada por Veja em 16 de abril deste ano.

VEJA: Espiões vermelhos

16/04/2012

O Ministério Público descobre que o governo petista de Brasília criou uma repartição para investigar aliados, adversários políticos, promotores e jornalistas

Rodrigo Rangel

Desde que assumiu o cargo, no ano passado, o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, vive enredado em denúncias. Já vieram à tona irregularidades dos tempos em que era ministro do Esporte do governo Lula, acusações de cobrança de propina quando era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, agora, conluio entre seu gabinete e os negócios do contraventor Carlinhos Cachoeira. Agnelo é investigado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em todos os casos, ele jura inocência e repete que tudo não passa de perseguição política, porque estaria tentando livrar a capital do país de uma rede de corrupção montada por antecessores. O esforço do governador para se afastar dos problemas, no entanto, parece ter extrapolado muito qualquer tática defensiva. Agnelo resolveu investigar clandestinamente seus acusadores, um velho hábito do PT para tentar se safar de denúncias de corrupção a partir da destruição do acusador. Estão no rol do governador políticos, promotores e jornalistas.

A ação ilegal de arapongas a serviço do governador está sob investigação do Ministério Público do Distrito Federal. Policiais militares formalmente lotados no palácio do governo, a poucos metros de seu gabinete, violaram sistemas oficiais de informações, inclusive da Receita Federal, para levantar dados sobre alvos escolhidos pelo gabinete do governador. A bisbilhotagem, até onde os investigadores já descobriram, começou no fim do ano passado e teve como vítima o deputado Federal Fernando Francischini, do PSDB do Paraná. Delegado da Polícia Federal, Francischini tornou-se inimigo de Agnelo depois de defender publicamente a prisão do governador com base em documentos que comprovariam uma evolução patrimonial incompatível com os vencimentos do petista. A partir daí, começaram a circular em Brasília dossiês com detalhes da vida privada do deputado, que registrou queixa na policia. O Ministério Público, então, passou a investigar a origem das informações que constavam nos dossiês. Para identificar os responsáveis, foram feitos pedidos de informações a órgãos que gerenciam os bancos de dados oficiais.

As primeiras respostas vieram do Ministério da Justiça, que mantém sob sua guarda o Infoseg, sistema que reúne informações sobre todos os brasileiros – desde números de documentos pessoais até endereços e pendengas com a Justiça. Abastecido pelas Polícias do país e protegido por sigilo, o sistema só pode ser aberto por funcionários autorizados em investigações formais. Cada acesso deixa registrada a senha de quem fez a consulta. Seguindo esse rastro, os investigadores descobriram o nome de dois policiais militares de Brasília que haviam consultado informações sobre o deputado Francischini no fim do ano passado, justamente no período em que o parlamentar fez as denúncias contra o governador. Responsáveis pela arapongagem, o subtenente Leonel Saraiva e o sargento Itaelson Rodrigues estavam lotados na Casa Militar do Palácio do Buriti, a sede do governo do Distrito Federal. Detalhe: as consultas haviam sido feitas a partir de computadores do governo localizados dentro do palácio.

Identificados os dois militares, o passo seguinte foi conferir no sistema as outras fichas consultadas por eles. Descobriu-se que os policiais haviam violado informações sobre mais de vinte indivíduos, todos desafetos do governador. Uma das vítimas foi o promotor de Justiça Wilton Queiroz de Lima, coordenador do Núcleo de Inteligência do Ministério Público de Brasília e responsável por algumas das principais investigações que envolvem a gestão de Agnelo. A lista inclui jornalistas cujas reportagens descontentaram o governador. Para surpresa dos investigadores, os arapongas violaram dados até de aliados, como os do vice de Agnelo, o peemedebista Tadeu Filippelli. A mesma sorte teve o chefe de Polícia da capital, Jorge Xavier, que foi seguido e filmado pelos arapongas. No caso do deputado Francischini, a investigação indica que as violações se estenderam aos sistemas da Receita Federal. Dados cadastrais do parlamentar guardados nos arquivos do Fisco foram consultados, no mesmo período, a partir de uma senha de uso exclusivo do governo do Distrito Federal.

Na quinta-feira, VEJA localizou um dos arapongas em pleno expediente no palácio. Ao ser indagado sobre a função que exerce no governo, o subtenente Saraiva silenciou. Sobre os dados pesquisados ilegalmente, saiu pela tangente: “Eu nem tenho acesso a isso”. Já o sargento Itaelson não foi localizado. Coube a outro policial militar, lotado numa das entradas do palácio e conhecido dos arapongas, a confidência sobre a real atividade da área em que trabalham: “É o setor de inteligência”. Os dois militares foram nomeados no fim do ano passado, em atos assinados pelo próprio Agnelo para cargos comissionados na Subsecretaria de Operações da Casa Militar do governo. Eles obedecem ao comando do coronel Rogério Leão, especialista em inteligência, que trocou a área de segurança da Presidência da República pelo governo do Distrito Federal assim que Agnelo tomou posse. O coronel Leão é apontado pelos investigadores como um dos chefes do grupo de espionagem, ao lado de Cláudio Monteiro, agente aposentado da Polícia Civil que era chefe de gabinete de Agnelo até terça-feira. Monteiro foi afastado após virem a público suspeitas de que ele mantinha relações heterodoxas com o grupo de Carlinhos Cachoeira.

A VEJA, o coronel Leão admitiu que foram feitas pesquisas sobre Francischini e as atribui uma norma que ele próprio baixou: “A ordem aqui é para levantar informações sobre todas as pessoas, independentemente de quem sejam, que atentam contra a integridade do governador”. O coronel diz que, no caso do deputado, os dados foram levantados porque ele teria convocado uma manifestação contra Agnelo num shopping de Brasília. “A gente pesquisa pessoas e não sabe se é deputado ou não. Afinal, são mais de 500 deputados federais em Brasília. Nesse caso, não havia informação de que ele é deputado”, afirmou. Ele negou ter conhecimento de relatórios sobre promotores e, a respeito de jornalistas, disse saber apenas de algumas “pesquisas” acerca de Edson Sombra, um dos pivôs da queda de José Roberto Arruda e titular de um blog com críticas ferrenhas a Agnelo. O vice-governador Filippelli disse que nunca soube da existência do grupo de inteligência e que pedirá “esclarecimentos oficiais” sobre o assunto. Já o governador Agnelo declarou que nunca foi informado sobre pesquisas envolvendo políticos, promotores e jornalistas. O governador afirmou ainda que, se houve violação das normas dos serviços de inteligência, ele tomará as providências cabíveis.

Políticos do PSDB

Seis são os indicados pelo PSDB para tentar censurar a internet

Em 15 de fevereiro, o deputado Lincoln Portela (PR-MG) criou uma Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 2126, lei que estabelece o Marco Civil da Internet (pode ser vista clicando aqui). O PSDB indicou 6 nomes para a comissão, são eles:

Antonio Imbassahy PSDB/BA (Gab. 810-IV) João Campos PSDB/GO (Gab. 315-IV)
Eduardo Azeredo PSDB/MG (Gab. 722-IV) Pinto Itamaraty PSDB/MA (Gab. 933-IV)
Walter Feldman PSDB/SP (Gab. 242-IV) Rui Palmeira PSDB/AL (Gab. 476-III)

Uma atenção especial deve ser dada aos congressitas Eduardo Azeredo e Walter Feldman, pois eles apresentaram recentemente projetos de lei que visam censurar a internet. Vejam abaixo o texto de Zé Dirceu:

José Dirceu:

Quando o assunto é Internet, o PSDB tem se mostrado uma verdadeira fonte de más ideias. O mais recente exemplo disso é o projeto de lei de autoria do deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), que prevê o bloqueio de sites que supostamente violem direitos autorais.

O projeto tucano é uma espécie de edição brasileira do SOPA (Stop Online Piracy Act), lei apresentada no Congresso dos EUA que daria ao governo o direito de derrubar ou bloquear o acesso a qualquer site que violasse direitos autorais. Por lá, a pressão que teve seu ápice no enorme protesto realizado em 18 de janeiro, que culminou com a retirada do SOPA e de outra proposta de censura na Internet, conhecida como PIPA (Protect Intelectual Property Act).

Em solo brasileiro, críticas de cidadãos e especialistas, associadas aos movimentos da própria Internet, já fazem Feldman pensar em voltar atrás e retirar o projeto de lei que propôs.

De fato, o momento é de discussão do tema com a sociedade e não de copiar leis fadadas ao fracasso. Nosso caminho próprio implica em buscarmos soluções realmente saudáveis para a Internet, que preservem e dinamizem seu caráter plural e livre. Projetos como o do deputado tucano são grande retrocesso, porque abrem espaço para a censura no ambiente virtual.

Anteriormente, o PSDB já havia proposto leis com teor semelhante, de autoria do ex-senador, agora deputado federal, Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O tucano é autor do projeto de lei conhecido como “AI-5 Digital”, que visa a coibir crimes cibernéticos, mas que significa a violação de direitos civis dos usuários —o projeto ainda tramita na Câmara.

No PL apresentado por Feldman, o NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, órgão responsável pelo registro dos sites no Brasil) teria o poder de, em até cinco dias, bloquear o endereço de IP ou suspender o funcionamento de páginas que supostamente violassem os direitos autorais. Além disso, poderia obrigar os provedores a bloquear o acesso de usuários a tais sites e a excluir referências a estes nos mecanismos de buscas.

“Isso pode gerar uma situação absurda. Qualquer blog que ponha foto ou algo do tipo pode ser denunciado. A lei pode virar uma ferramenta para fazer bloqueios políticos e culturais”, alerta Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC.

A verdade é que o Brasil tem uma proposta avançada para tratar dos direitos e deveres de usuários e provedores na Internet. Trata-se do Marco Civil da Internet (PL 2126/2011), elaborado com a participação da sociedade e enviado ao Congresso Nacional e agosto de 2011. O Marco Civil reconhece princípios constitucionais como a liberdade de expressão, a privacidade e os direitos humanos.

Vale ressaltar que os aliados dos grandes grupos de mídia no Brasil, de seus interesses comerciais e de monopólio do direito de informação, se recusam a debater qualquer regulação dos meios de comunicação —como existe nos países desenvolvidos. Mas querem regular a Internet. Ou seja, querem impedir que o país adote medidas de estímulo à concorrência, para oxigenar o setor e ampliar a liberdade de expressão que tanto aludem para preservar seus status quo.

Corrupção, Demóstenes Torres, Goiás, PMDB, Políticos do PSDB, Políticos PT

Carlinhos Cachoeira, o bicheiro que assusta os políticos

ELE DÁ MEDO O bicheiro Carlinhos Cachoeira. Preso numa penitenciária de segurança máxima, ele está negociando uma delação premiada (Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press)
O bicheiro Carlinhos Cachoeira. Preso numa penitenciária de segurança máxima, ele está negociando uma delação premiada (Foto: Iano Andrade/CB/D.A Press)

O bicheiro goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tornou-se conhecido nacionalmente como um dos protagonistas do primeiro grande escândalo da era do PT no governo federal, revelado por ÉPOCA em 2004. Dois anos antes, Cachoeira negociara com Waldomiro Diniz, assessor do então deputado José Dirceu (chefe da Casa Civil do governo Lula), contribuições para campanhas políticas de candidatos do PT nas eleições em 2002, como Benedita da Silva, no Rio de Janeiro, e Geraldo Magela, no Distrito Federal. Também fizera gravações em vídeo das negociações. Com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, Cachoeira passara a cobrar uma retribuição na forma de um contrato na área de loterias com a Caixa Econômica Federal, não fora atendido e resolvera dar o troco: forneceu suas informações sobre o caixa dois petista ao Ministério Público Federal. Depois do caso Waldomiro, Cachoeira submergiu e passou a dizer que se afastara do ramo de jogos para se dedicar exclusivamente a negócios na área farmacêutica. Há três semanas, descobriu-se que Cachoeira continuou na ilegalidade e ativo como nunca. Ele foi preso durante a Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal (PF), como o líder de uma quadrilha que operava máquinas caça-níqueis em Brasília e em Goiás.

No momento, Cachoeira passa seus dias no presídio federal de segurança máxima de Mossoró, Rio Grande do Norte, e negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal para reduzir sua provavelmente extensa pena. É uma perspectiva que assusta gente de todo o espectro político, por causa das conexões de Cachoeira com vários partidos. Sua prisão já causou abalos à reputação de alguns políticos de primeiro escalão, como o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). Ao grampear Cachoeira, a PF descobriu que ele mantinha conversas telefônicas regulares com Demóstenes, um promotor de carreira que se tornou um dos parlamentares campeões de projetos na área de segurança pública e ficou conhecido como um dos mais ferrenhos críticos do PT no governo. Depois da revelação das conversas com Cachoeira, Demóstenes admitiu uma relação de amizade com o bicheiro, de quem recebera uma geladeira e um fogão importados, mas negou saber que ele continuasse na contravenção. Demóstenes disse também que só conversava “trivialidades” com Cachoeira.

A proximidade incomum de Demóstenes, ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, com um bicheiro se tornou mais esquisita ainda depois que
epoca.com.br revelou que ele ganhou de Cachoeira um rádio Nextel, habilitado em Miami, para que os dois pudessem conversar diretamente. Demóstenes usava um dos 15 aparelhos cedidos por Cachoeira a pessoas de sua confiança. Cachoeira foi orientado por um policial federal, que integrava a quadrilha, a habilitar os aparelhos nos Estados Unidos. Ele acreditava que, assim, os aparelhos estariam imunes a grampos legais e ilegais – uma ideia que se mostrou equivocada, conforme revelaram as investigações da PF. O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, diz que não há ilegalidade no fato. Nem os colegas mais próximos de Demóstenes tentam atenuar a gravidade do problema. “O fato de o Demóstenes ter recebido o aparelho de rádio do Cachoeira não é normal nem razoável. É grave. Disse isso a ele”, afirmou o senador Pedro Taques (PDT-MT).

Por Demóstenes ser um crítico severo dos petistas, a lógica seria que ele passasse a ser uma presa tão fácil para o PT quanto um peixe ferido, a 2 metros de um tubarão faminto. Mas, no oceano do Congresso, o tubarão petista virou vegetariano. Logo após a revelação dos presentes da geladeira e do fogão, Demóstenes subiu à tribuna do Senado para dar suas explicações. Os 43 senadores que o apartearam lhe prestaram solidariedade e apoio. Os petistas não apenas silenciaram nas críticas. Quatro deles – Eduardo Suplicy (SP), Paulo Paim (RS), Jorge Viana (AC) e Marta Suplicy (SP) – tomaram o microfone para defender Demóstenes. Uma semana depois, quando o caso do Nextel foi revelado, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) se manifestou no Twitter. “Como é que ficam agora os senadores, inclusive do PT, que se solidarizaram ao Demóstenes? Peçam desculpas ao Brasil”, disse Greenhalgh. No caso de Demóstenes, a benevolência do PT parece traduzir um agudo instinto de proteção. Depois da prisão de Cachoeira, tornou-se público um vídeo em que ele promete contribuição, via caixa dois, para a campanha a prefeito de Anápolis, Goiás, em 2004, do deputado federal Rubens Otoni (PT-GO).

Só na sexta-feira 16, depois da cobrança de Greenhalgh, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), disse que o partido entraria com uma representação na Procuradoria-Geral da República, para solicitar investigação sobre a participação de parlamentares no escândalo dos caça-níqueis. O silêncio constrangido sobre o caso Cachoeira continuava em outros partidos. O bicheiro é um assunto delicado também para outras grandes legendas, como o PMDB e o PSDB. O ex-governador de Goiás Maguito Vilela, do PMDB, foi padrinho de casamento de Cachoeira e deu a ele durante sua gestão, entre 1995 e 1998, a concessão da exploração da loteria de Goiás. Na ocasião, Cachoeira tentava dar uma fachada legal aos negócios de sua família, historicamente ligada ao jogo em Goiás. O pai de Carlinhos, Sebastião Cachoeira, era ligado ao lendário bicheiro carioca Castor de Andrade.

A Operação Monte Carlo mostrou que as ligações de Cachoeira com autoridades do governo de Goiás, hoje dirigido pelo tucano Marconi Perillo, continuam fortes. Em setembro do ano passado, um delegado da Polícia Civil de Goiás, Alexandre Lourenço, concluiu um relatório de quase 500 páginas com endereços e nomes de integrantes da quadrilha que explorava jogos ilegais em Goiás. Lourenço entregou seu relatório ao então diretor-geral da polícia, delegado Edemundo Dias. O próximo passo seria solicitar à Justiça a quebra de sigilos telefônicos para chegar aos principais integrantes. Cachoeira seria, obviamente, o primeiro atingido pela investigação. Mas isso não ocorreu – Lourenço foi afastado do caso pelo delegado Dias, que também é tesoureiro do PSDB goiano, e a investigação foi interrompida. A PF também captou uma conversa telefônica em que Cachoeira pede ao ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia Wladmir Garcez (PSDB), que fale com Dias sobre operações da Polícia Civil para combater jogos ilegais no entorno do Distrito Federal. O delegado Dias confirmou a ÉPOCA que foi procurado por Garcez. “Talvez ele tenha ido lá fazer uma sondagem (sobre operações)”, disse Dias. “Só que não houve abertura da minha parte.” Dias, hoje presidente da Agência Prisional de Goiás, afirmou que removeu o delegado Alexandre Lourenço por necessidades de remanejamento de pessoal.

De acordo com a Polícia Federal, o ex-vereador Garcez intermediava os contatos entre Carlinhos Cachoeira e o governador Perillo. A PF apurou que Garcez trocava torpedos com Perillo e está no centro de uma daquelas transações imobiliárias rocambolescas que só costumam acontecer no mundo da política. Trata-se da casa onde Cachoeira morava, num condomínio de luxo em Goiânia, quando foi preso pelos agentes da PF. Cachoeira mudou-se para lá em janeiro de 2011, quando Perillo, o antigo proprietário, assumiu o governo de Goiás e vendeu o imóvel. Em entrevista ao jornal O Popular, de Goiânia, Perillo afirma que pensava ter vendido a casa para Garcez e que só descobriu o nome do verdadeiro comprador – um empresário chamado Walter Paulo Santiago – quando a escritura foi passada. Santiago disse ter emprestado a casa de graça a Garcez, que, por sua vez, deixou Cachoeira morar lá – também de graça. Tanto Perillo quanto o empresário Santiago dizem que não sabiam que Cachoeira morava lá.

Apesar do mutismo de PT, DEM e PSDB, há um movimento na Câmara dos Deputados para instalar uma CPI do Caso Cachoeira. Isso – e sobretudo a ameaça de Cachoeira de falar o que sabe ao MPF – está tirando o sono de muitos políticos em Goiânia e Brasília.

Quem tem ligação com Cachoeira (Foto: AE, CB/D.A Press, Ag. A Tarde/Folhapress (1) e Folhapress)
Minas Gerais, Políticos do PSDB

Vereador Léo Burguês (PSDB/MG): “Povo não tem que reclamar que aumentou salário de político”

Só podia ser do PSDB:

 

Em entrevista ao iG nesta segunda-feira (19), o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereador Léo Burguês (PSDB), saiu em defesa do aumento de 60% aprovado para os parlamentares na semana passada, sob vaias e protestos.

“O povo não tem que reclamar que aumentou salário de político. A gente tem que é aumentar o salário do povo. A população tem direito de desabafar, principalmente professores e aposentados. Temos que brigar pra melhorar os salários do povo”, destacou o parlamentar, ressaltando que, neste ano, os vereadores votaram com agilidade aumento médio de 13% para servidores da prefeitura de Belo Horizonte. “O povo reclama de aumento de salário de político porque tem uma visão errada de que político não trabalha. No domingo mesmo fiquei na Câmara até 20h30. A gente entende a revolta da população porque ela sofre no salário dela, mas temos é que cobrar dos políticos um bom serviço”, afirmou Burguês.

Porém, os salários dos vereadores mineiros passarão de R$ 9.288,05 para R$ 15.031,76, o que corresponde ao teto previsto pela Constituição Federal, ou seja, 75% dos vencimentos dos deputados estaduais. Burguês explica que o salário dos vereadores da capital mineira não tiveram aumentos nos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012. O reajuste salarial votado na semana passada passará a valer na legislatura que começa em 2013.

“Não sei quem vai ser eleito e tivemos transparência de fazer isso antes da eleição, até porque a própria lei diz que o aumento deve ser feito de uma legislatura para a outra”, disse.

O presidente do legislativo de BH afirmou ainda que, mesmo em momentos de diversão, não deixa de trabalhar. “Eu sou político 24 horas por dia. Eu sou presidente da Câmara 24 horas por dia. Se eu estou em um bar bebendo, quem está ali é o presidente da Câmara, não é só o Leonardo Burguês de Castro. Se tiver algum problema, não vou me omitir como presidente da Câmara”.

Cargos

Após a polêmica do reajuste salarial, os parlamentares da capital mineira correm para aprovar um projeto de lei que cria 12 cargos comissionados e gera um impacto anual aos cofres públicos superior a R$ 1 milhão. Para assessor técnico especializado, por exemplo, a mesa da Câmara Municipal de Belo Horizonte propõe um salário de R$ 9.166, em contratação por meio de recrutamento amplo, ou seja, sem a necessidade de concurso público. O Projeto de Lei 2046/2011, referente à criação destes cargos e que também trata de aposentadoria de servidores, foi aprovado em primeiro turno no último dia 16. Agora, segue para o segundo turno, nesta semana. A expectativa de Burguês é de que ele seja votado na próxima quarta-feira (21).

“Vou economizar para Câmara e vou apanhar da imprensa. Qualquer tipo de criação de cargo é mal vista. A imprensa só fala do cargo de R$ 9 mil, que é um só. Para fazer um projeto de ar condicionado na Câmara, pagaria R$ 120 mil. Com esta reforma vou gastar R$ 40 mil. A estrutura administrativa é de 1990, quando tínhamos 31 vereadores. Com esta nova estrutura vamos fazer audiência públicas nos locais dos problemas, aos finais de semana”, justificou ele, se referindo à criação da nova diretoria de Relações Institucionais. “Esta diretoria já existe na Assembleia e no Congresso. Estamos atrasados”, completou.

Questionado sobre o motivo de não fazer concurso público para preenchimento dos novos cargos, o vereador afirmou que a contratação será por curto período, de acordo com as necessidades. Ele também diz que a nova estrutura permitirá mais agilidade aos processos. Não haverá necessidade de contratar com licitação uma consultoria especializada sobre determinado tema.